15 janeiro 2008

Martine Batchelor em Portugal


Tivemos uma celebridade do mundo budista internacional no Norte :) Contudo, a passagem de Martine Batchelor pelo nosso país foi muito discreta. O tema do retiro, libertar-se dos hábitos, era de facto fantástico, e o ensinamento de Martine, inspirador.

Tanto Martine como o marido, Stephen, estão mais e mais interessados no ensinamento "original" do Buda, e o último projecto de escrita da vida do Buda, levou Stephen Batchelor a dedicar-se intensamente à língua e ao cânone Pali. A vinda de Martine ao nosso país chegou a ser criticada - por causa da posição não dogmática de Stephen Batchelor (sobretudo patente em livros como Buddhism without Beliefs e The Faith to Doubt). Nas palavras de Stephen Batchelor "Buddhism is not a fixed body of dogma (like perhaps some other religions). It has always been transformed by its interactions with those cultures into which it has moved; at the same time, those cultures have been transformed by their interaction with Buddhism. So the style of the teaching reflects Buddhism’s creative capacity to interact with a culture in a way that makes it available to that culture, but at the same time it remains true to its own principles and its own pattern." (O Budismo não é um corpo fixo de dogmas, tal como outras religiões. Sempre se transformou pela interacção com as culturas em que se integrou; ao mesmo tempo, essas culturas transformaram-se ao interagir com o Budismo. Portanto, o estilo de ensinamento reflecte a capacidade criativa do Budismo interagir com uma cultura de uma forma que o torna disponível para essa cultura, mas ao mesmo tempo mantendo-se verdadeiro em relação aos seus princípio e padrões).

Frequentemente parece que as pessoas que mais o criticam não se dão ao trabalho de ler a sua obra. A própria Martine contou que uma vez falou ao telefone com alguém que lhe disse que não gostava do marido. Ela perguntou-lhe se tinha lido o livro dele (tratava-se do famoso Buddhism without beliefs). Ele disse que não, que lera uma crítica ao livro :)

O tema do retiro em si era essencialmente prático, e Martine Batchelor apresentou ferramentas que vêm da sua experiência de 10 anos num mosteiro coreano, e de mais de vinte anos de ensino no ocidente, integrando no background do zen coreano a experiência com vipassana e algo da psicologia ocidental. Na última noite antes da partida, indaguei sobre a componente da psicologia ocidental, e ela aconselhou-me a consultar a bibliografia que se encontra no site. No seu ponto de vista, a meditação budista tem um poder curador. Mas devemos ter cuidado em não confundir meditação com terapia. Podem encontrar-se, mas não são a mesma coisa. Segundo ela, embora tenha feito alguma formação em aconselhamento, não pode olhar para o passado da pessoa ou algo do género - o que interessa é o presente, e como a meditação pode ajudar nas suas vidas. Quando falamos de concentração (samatha), falamos de treinar a mente de uma determinada forma. Quando falamos de investigação (vipassana), talvez se torne um pouco mais psicológico. Quando olhamos para a cobiça, o ódio ou cólera, então começamos a olhar de uma forma ligeiramente diferente. O problema ao "pôr-se" muita psicologia na meditação é que pode tornar-se muito pessoal, demasiado individual. As pessoas podem tornar-se demasiado concentradas em si mesmas, o que é o oposto do que a meditação significa - o parar interior, de forma a respondermos mais ao mundo. Meditação e psicologia têm portanto de se combinar com discernimento.

Durante o retiro, fizemos algumas perguntas "quentes" relativas ao panorama do budismo no ocidente - integração de diferentes técnicas, o papel do professor, etc. As respostas vão poder ser visionadas brevemente, pois tudo foi filmado :)