Os ensinamentos deste dia em Lisboa aborda o (famoso) IX capítulo de A via do Bodhisattva, de Shantideva (agora editado com uma nova tradução pela Ésquilo). Como frequentemente, o Dalai Lama começou por falar dos diferentes caminhos religiosos e advertiu para o perigo de mudar de crença - e aqueles que mesmo assim se convertem devem fazê-lo após longa reflexão e depois de ter estudado e analisado o ensinamento de Buda.
Para avaliar uma "verdade" ou alguém que se estabelece como autoridade, segundo Nagarjuna, a razão e a lógica deve prevalecer sobre a devoção. Aliás, uma frase recorrente do Dalai Lama durante o dia de hoje é que não se eliminam as emoções conflituosas e a ignorância que lhes está subjacente com orações e os votos do género "possa eu..." - é necessário compreensão, sabedoria. Como gerar a sabedoria? Mais uma vez, não basta a fé, é necessário a dúvida e a investigação.
A compreensão das Quatro Nobre Verdades é essencial para desenvolver a sabedoria - e sabedoria, no Budismo, equivale a compreender a vacuidade, compreender a origem interdependente de todos os fenómenos. Tudo é produzido a partir de condições e por isso tudo é vazio. Da mesma forma, se não se compreende os quatro selos do ensinamento do Buda, não há refúgio.
Uma distinção importante é a de verdade convencional (as aparências) e verdade última ou absoluta (as coisas como elas são). Como distingui-las? A verdade absoluta não é objecto da mente. Neste sentido fala-se de mente dualista, que estabelece uma verdade convencional. Há contudo uma mente que compreende a realidade última. À mente livre de todas as poluições chama-se nirvana.