05 agosto 2007

A essência da Vida


A essência da vida consiste no facto de ela ser um desafio. Umas vezes ela pode ser doce, e outras amarga. Algumas vezes, o nosso corpo fica tenso, outras descontrai ou abre-se. Umas vezes temos uma dor de cabeça, e outras sentimo-nos 100% saudáveis. De uma perspectiva desperta, tentar atar todas as pontas soltas e conseguir perceber tudo equivale à morte, porque implica a rejeição de muita da nossa experiência básica. Há algo de agressivo nessa abordagem da vida, em tentar alisar todos os pontos mais agrestes e todas as imperfeições, de maneira a fazermos uma viagem sem sobressaltos.

Estarmos totalmente vivos, sermos totalmente humanos e estarmos completamente despertos, implica sermos continuamente atirados para fora do ninho. Viver completamente é estar sempre na terra-de ninguém, experimentar cada momento como algo completamente novo e fresco. Viver é estar disposto a morrer vezes sem conta. Do ponto de vista desperto, isso é vida. A morte é querermos agarrar-nos àquilo que temos e fazer com que cada experiência nos confirme, nos felicite e nos faça sentir completamente unos. Portanto, embora afirmemos que o yama mara é o medo da morte, ele é, na realidade, o medo da vida.

Pema Chodrön,
Quando tudo se desfaz: palavras de coragem para tempos difíceis