14 setembro 2007

Dia II


No início dos ensinamentos foi recitado um sutra em Pali, e através daquela voz e linguagem foi possível viajar no tempo e no espaço, ouvir a voz de tantos outros antes de nós.

A sessão de hoje recuou nos capítulos do Bodhicaryavatara para demonstrar como a compreensão da vacuidade leva à compaixão e à bodhicitta. Ao compreendermos a vacuidade percebemos que o apego à "existência verdadeira" é a causa do nosso sofrimento. Todo o sofrimento procede da ignorância. Ao integrar isto, a Grande Compaixão surge como o desejo de que os seres não sofram. Uma afirmação interessante é que através da compaixão podemos aumentar as nossas capacidades cognitivas.

Do intervalo para o almoço: "hoje em dia a sociedade está de tal forma organizada que é mais fácil viver com mais do que com menos" - isto como um desabafo sobre a prática na sociedade actual, sendo mãe e budista.

De tarde retomamos a questão da compaixão. Habitualmente pensamos só em nós. Mesmo ao falar de amor, associamo-lo connosco - o "meu" amigo, a "minha" namorada. Desejar que todos os seres sejam felizes não surge por si só. Por isso temos de "trabalhar" primeiro connosco. Como desejar o fim do sofrimento para os outros se não começamos por nós? Quando se fala de sofrimento no contexto da compaixão, fala-se do sofrimento condicionado (que depende de causas), da experiência do prazer contaminado (e não da experiência primeira da dor propriamente dita). Portanto temos primeiro que identificar o sofrimento, o estado em que estamos, sob o domínio da ignorância e de emoções negativas. Geralmente não nos preocupamos em eliminar estas emoções conflituosas. Perturbam a nossa paz mental e a dos outros, mas deixamos que nos dirijam. Os nossos inimigos exteriores não são contudo os nossos verdadeiros inimigos, mas sim as nossas emoções conflituosas.No entanto está errado pensar que estas emoções nos sejam naturais ou que nos possam trazer algum benefício... Se a ira fosse a nossa natureza intrínseca, então estaríamos sempre irados. A verdadeira natureza da nossa mente é a claridade - as emoções negativas são distorções que podem ser vencidas, dispersas pela sabedoria.

Após gerar bodhicitta é necessário praticar um estado constante de consciência, de atenção completa e contínua. É necessário estar sempre consciente, pela introspecção e pela atenção. Para curar uma doença, tomamos remédios - da mesma forma, para eliminar as aflições, não basta ler sobre elas. O que nos leva às acções negativas é o pensamento. Por isso o budismo ocupa-se da transformação da mente, pois a mente é o motor da existência.

A aspiração à bodhicitta é potenciada quando na relação com um mestre. Desta forma, seguiu-se uma cerimónia para "gerar o espírito de iluminação", em que os presentes estabeleceram uma ligação com o Dalai Lama.

Com o desejo de libertar todos os seres
Entrarei sempre em refúgio
No Buda, no Dharma e na Sangha
Até atingir a plena iluminação.

Movido pela sabedoria e pela compaixão
Hoje na presença do Buda,
Gero o Espírito da Plena Iluminação
Para o benefício de todos os seres sensíveis.

Enquanto existir o espaço,
Enquanto aí existirem seres,
Possa eu também permanecer
para dissipar a dor do mundo.